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Como a Ausência de Feedback no Scrum Leva ao Waterfall (ou melhor... ao “Water-Scrum-Fall”)

Por Julio Oliveira

· Agile,Scrum,Feedback

O Scrum é um método simples, mas de complexa adoção. Simples pois, em sua forma mais básica, é composto por apenas 3 papéis, 4 cerimônias e 4 artefatos. Difícil pois, para atingir resultados expressivos, impõe uma mudança cultural épica.

“Épica” é sem dúvida a palavra mais adequada para expressar o tamanho do impacto cultural. Para entender a razão disso, vamos voltar um pouco no tempo. Após muitos anos arrastando correntes, na década de 90 a comunidade de desenvolvimento deu à luz aos primeiros frameworks ágeis: Extreme Programming (XP), Scrum, DSDM, FDD, Crystal Clear entre outros. Todos eles altamente influenciados pelo Lean e pela abordagem centrada no cliente (Customer Centric), ou seja, o cliente no centro do processo de desenvolvimento.

Por anos fomos doutrinados no modelo waterfall que, influenciado pelo paradigma da manufatura, está cravado no mindset geral. A abordagem centrada no cliente trouxe para os métodos ágeis a transparência e o feedback constante, as expectativas são alinhadas constantemente ao longo do desenvolvimento de cada iteração (sprint). Representa uma completa inversão valores. Enquanto no waterfall o cliente se envolve apenas na definição do escopo e na validação dos entregáveis, no ágil – além de definir o escopo e validar as entregas – o cliente precisa dar feedbacks constantes em relação ao produto da sprint EM TEMPO DE DESENVOLVIMENTO.

Ou seja, no modelo ágil, o cliente não deveria estar envolvido... e sim comprometido. No caso do Scrum isso se materializa na figura do PO (Product Owner), que representa o cliente e, entre muitas outras responsabilidades, é o principal responsável pelo feedback de negócio durante o desenvolvimento da sprint. Com isso a probabilidade de sucesso da sprint aumenta, bem como torna as reuniões de Review um rito de mera formalização de entrega e comunicação – visto que a validação se torna orgânica ao longo da Sprint.

Parece óbvio. Só que não. Muito se fala sobre adoção do Scrum, mas poucos realmente desejam o modelo “Customer Centric”. Isso acaba se caracterizando principalmente pela cristalização do escopo (geralmente fechado e totalmente detalhado no início do projeto), pela falta de transparência, pela depreciação do papel do PO (com baixa autonomia e influência) e pela transformação das sprints em mini waterfalls. Para esclarecer a diferença, em uma sprint sabor “mini waterfall” o cliente muitas vezes se preocupa apenas em validar as entregas no término da sprint – não existe feedback contínuo em tempo de desenvolvimento da sprint.

Esse cenário híbrido, também conhecido “Water-Scrum-Fall”, é completamente normal em empresas que estão começando a adotar o Scrum, tratando-se de uma fase inicial geralmente traumática. Certamente não é algo a ser cultivado e perpetuado quando se pensa em aumentar a agilidade.